Crônica: Depósitos da vida
- Ellaine Toledo

- 31 de jan.
- 2 min de leitura

No banco da vida, o que realmente vale não é o quanto acumulamos, mas o que conseguimos retirar de cada experiência, embora a gente tenha que primeiro depositar para depois sacar.
Algumas pessoas percebem o poder de um bom depósito logo nos primeiros anos escolares, outras, somente no dia do vestibular se dão conta que passaram um ano inteiro colando nas provas e não há saldo nenhum para sacar. O banco do conhecimento está zerado, e a conta da vergonha fica no vermelho.
Depois vem o trabalho. É comum achar que basta aparecer, bater ponto, fazer o básico e esperar a promoção. E mais, questionar ou desqualificar a promoção do colega que entrou na empresa há poucos meses e mostrou interesse, dedicação, comportamento profissional impecável e resultados, esses sim, sacam aumentos e oportunidades. E com tardia percepção, constatar: quem só quer receber sem investir, fatalmente, ficará olhando de fora.
No amor, então, aprende-se da pior forma. Querer carinho, mas não dar atenção; esperar mensagens, mas não enviar nenhuma; cobrar do outro, o que nunca sequer imaginou fazer; cobrar gentileza, sem conhecer o prazer de servir. E o inevitável acontece, um dia, o saldo fica negativo, e o relacionamento fecha a conta.
A vida é assim: antes de pedir reconhecimento, tem que plantar dedicação; antes de cobrar lealdade, tem que oferecer confiança; antes de exigir atitude, tem que ser exemplo; antes de cobrar leveza, tem que ter noção do próprio peso, e o mais importante, antes de querer colher, tem que semear.
O mais curioso é que a gente nem sempre deposita no lugar ou pessoa certa. Tem gente que investe tudo em trabalho e esquece da família; outros depositam amor onde não há reciprocidade; alguns gastam tempo demais em preocupações e esquecem de investir em felicidade. E ainda, há aqueles que passam anos se dedicando a uma pessoa ou grupo, e quando exaustos dizem: chega! São estigmatizados como pessoas difíceis.
Algumas coisas a gente só saca mesmo, com o perdão do trocadilho, anos depois, por isso, devemos refletir se estamos aplicando nossos esforços nas contas certas, se faremos grandes saques, ou se vamos passar a vida tentando sacar de onde nunca depositamos nada.
Verdade seja dita, só dá para sacar na mesma proporção que a gente deposita, e o pior é que, se a gente não cuida da nossa conta, ainda vem a vida e cobra juros.




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